domingo, 6 de novembro de 2011

Saudades.

Como todos já devem estar cheios de ouvir, a palavra "saudade" é exclusiva da lingua portuguesa. Todas as outras línguas do mundo usam, para descrever esse sentimento, uma expressão ou frase. Mas, definitivamente, o sentimento saudade não é inerente apenas aos brasileiros.

Ouvi certa vez que a saudade é como uma águia na alma de uma pessoa. Ela desce por abismos e por um longo tempo parece estar morta, caída lá no fundo, incapaz de machucar alguém. Porém, eventualmente, ela ressurge, alçando vôo com uma velocidade incrível, procurando os limites da dita alma, destruindo qualquer barreira que a pessoa tenha criado - bebida, drogas, tratamento psicológico. Tudo some em um piscar de olhos, em um bater de asas.

Quando uma pessoa passa por sua vida, nunca é apenas isso, como em um desfile de moda. Geralmente ela leva uma parte de você e você uma parte dela. O verdadeiro problema é quando são partes grandes demais, tão grandes que você mal pode respirar. Você sente aquela ardência no peito, aquele bolo na garganta e o único remédio existente para melhorar essa coisa horrível que você sente, geralmente está longe demais. Inalcançavel. Inexoravel. Intangível como o alimento para Tântalo.

É uma sensação horrível, indescritível e geralmente vem acompanhada de outra situação igualmente indescritível: o amor. Mas acho que vale a pena sentir saudades, sentir amor. Pelo menos quando você sabe que um dia, mesmo que pareça daqui a muitos anos, você a encontrará, a abraçará, sentirá seu cheiro (aquele cheiro que parece estar com você desde o início de sua vida e sem o qual tudo parece mais preto e branco) e verá seu lindo sorriso.

Vale a pena porque quando isso acontecer, no fundo de sua alma, uma águia pousará e cantará, feliz.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Contos de fada.

Quando eu era pequeno eu gostava de me imaginar detentor de alguma especialidade, poder, habilidade, o que seja. Eu gostava de pensar que talvez o mundo não fosse tão cinzento quanto parecia. Que deveriam haver dragões, fadas, princesas, amigos verdadeiros. Que, na verdade, a ficção não é nada mais do que um breve momento de lucidez, onde o autor conseguia ver por entre as cortinas que dividem as dimensões.

Era bom pensar assim. Minha infância não foi exatamente muito divertida, apesar do que os adultos da época pensavam. Morar em uma cidade pequena onde a criança tem espaço para brincar do lado de fora pode ser, sim, um problema sério. Antes de se estabelecer em um lugar, as pessoas têm de avaliar não apenas o local em si, mas as pessoas. Avaliar se as pessoas têm a mente tão pequena quanto o lugar em que moram, se elas estão preparadas para "intrusos" em seu ambiente. Pois bem, não foi assim que me instalei em Miguel Pereira e acho, sinceramente, que foi minha imaginação que me salvou da loucura.

Não, os miguelenses não estavam preparados para receberem bem "intrusos" vindo da "cidade grande". E sim, muitos deles tinham e, infelizmente ainda têm, uma mente tão rasa quanto uma colher de chá. Sem a minha imaginação não sei onde teria parado em uma escola onde meus "amigos" me acertavam com pedras na têmpora (e acreditem, isto não é uma hipérbole), meus inimigos riam e faziam chacota de mim e até os professores pareciam aprovar estes atos. Não estou aqui para me fazer de vitima, longe disso, estou aqui para mostrar como uma imaginação avantajada pode trazer o bem para alguém.

Não devo negar que por muitas vezes pensei em suicídio, naquela época. Pensei em morte grande parte da minha infância, sendo a minha ou a de outros, não importava. Provavelmente o que me salvou de um destino ruim foram os livros. Como disse em um post anterior, eles são os amigos nos quais podemos confiar. E foram eles que me guiaram, me possibilitaram criar uma crisálida ao meu redor. Talvez um observador externo reparasse em minha mudança ao longo dos anos, de passivo ao dano moral causado por outrem para apenas indiferente. Não, não funcionou de modo a desanimá-los a parar com tais danos como a maioria das pessoas tendem a acreditar, mas pelo menos me fez dar menos importância a eles e mais ao meu crescimento intelectual e, porque não dizer, espiritual.

Cavaleiros, princesas desprotegidas, magos, bruxos, unicórnios, gigantes, amizade eterna e sem interesses, tudo isso se tornou um ideal para mim, um objetivo a ser alcançado. E ter um objetivo é tudo que uma criança com problemas de bullying precisa, na minha opinião. Com eles, não há intelectualmente prejudicados o suficiente no mundo para desanimar-nos.

Não sei se encontrei ou se um dia vou encontrar todos estes itens acima, mas sei que nunca, nunca eu vou desistir de procurá-los no coração e na mente de cada um que estiver ao meu lado.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Ensaio sobre os sentimentos.

Já fazia tempo que não falava de como me sinto aqui, não que alguém realmente se importe. Na verdade, nem sei se alguém lê isso aqui. Mas dane-se, faz tanto tempo que tudo mudou.

Quem me conhece de verdade sabe que na época de RPGs de orkut, eu estava lá. Tinha alguns personagens, a maior parte de Harry Potter, mas haviam personagens criados por mim, como detetives também. Foram nesses jogos que encontrei algumas das pessoas mais importantes hoje em dia para mim e não me arrependo de ter perdido um tempo enorme da minha adolescência no PC

Mas algumas pessoas são mais especiais que outras. O Nevs, principalmente, está comigo desde o começo, quase. Postava comigo no Simbiose, mas agora não liga mais para os blogs, só quer saber de sua aquarela.

Mas hoje em dia, quem eu mais me comunico, é quem é mais importante para mim depois de minha família. Por incrível que pareça, eu a conheci quando era uma Alice, um char de, pasmem, Crepúsculo. Era para não termos nem nos aproximado, até porque eu nem conhecia a saga ainda. Por causa dela comecei a ler e, admito, não gostei. Mas joguei com ela. Era como uma atração estranha. Eu, normalmente, ignoraria qualquer um com um char daqueles, mas não deu. Não com ela. Depois de um tempo nos falamos como Neuza e Vinícius. Ela entrava um dia e sumia por um mês e aquilo era estranhamente doloroso para mim. E então um dia nos falamos por telefone e ela achou minha voz (grossa demais) linda. E eu achei a voz dela (em sua opinião fina demais), linda também.

Agora nos falamos todos os dias por telefone. E eu fico esperando, meu coração apertado, querendo notícias, querendo saber dela. O que é estranho, nunca gostei de telefones, mas com ela eu os uso com prazer. Acho que minha mãe pensa que fui abduzido e que me trocaram por um clone, mas eu não acho. Só acho que estou apaixonado, o que é quase a mesma coisa.

Eu não tenho certeza se isso é normal com os apaixonados, mas comigo é assim e eu estou começando a gostar deste sentimento. Quando acordo, a primeira coisa que penso é nela e em quando vou ouvir sua voz, saber de seu dia, fazer brincadeiras... e quando ela liga e em meu celular ainda fechado aparece "Neu chamando", aquela sensação do coração parando por alguns segundos... O riso frouxo que se instala em meus lábios quando digo o primeiro "Oi, ma petit" do dia e a linha o leva rapidamente do sudeste para o nordeste do país. Ou então daquela sensação de perda quando a ligação termina e ela tem que voltar a estudar e que faz você querer por mais e mais. Não sei, devo estar condicionado a falar com ela de noite, porque quando me liga de dia, tudo isso é muito maior, somado com aquela saudade e tristeza.

Sei que é muito Anti-Vinícius dizer isso e provavelmente é porque eu fui abduzido e substituído por um clone bobão, mas eu estou adorando estar apaixonado.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Fera-Humana 9

-Rapaz, essa história está começando a ficar ruim para nosso lado. Melhor tomar providências, dizia uma voz rouca e forte que parecia estranhamente errada, visto de onde saía. Saía dos lábios de um homem em seus "trinta-e-muitos", loiro, de barba bem feita e olhos de um verde claro que, sob a luz do sol pareciam muito bem ser azuis. Olhos enganadores de uma pessoa enganadora. O homem realmente parecia alguém a ser admirado. Admirado, não. Protegido. Parecia um filhote de um animal especialmente "bonitinho" que precisava desesperadamente de uma mãe, de um protetor. Na verdade, ele não era assim. Pelo menos não agora. Podia aparentar uma beleza infantil e calma, mas os olhos verdes (no escuro eram, definitivamente, verdes) cintilavam de uma maneira cruel e impiedosa e aquela voz cavernosa realmente acentuava aquele Eu-Lunar do homem.

-Nós sabemos que não há providência alguma a ser tomada. Se nós simplesmente pararmos de tomar conta de tudo e nos mudarmos daqui, irmos, não sei, para o México ou o Canadá -nossa tia não mora no Canadá?- eles nunca vão conseguir pegar-nos. Ficaríamos livres e limpos!, a voz que saía do mesmo homem agora era completamente diferente. Era mais baixa e acanhada mas, definitivamente, doce. Seu olhar também mudara. Parecia buscar um meio para fora daquele apartamento escuro de cortinas de veludo. O Eu-Solar dele parecia um homenzinho nervoso, daqueles que se vê em desenhos animados, atormentados pelo Pica-Pau. Tinha até um tique nervoso: seus dedos da mão direita batucavam na mão esquerda incansavelmente.

Thomas Gunner era um homem dividido. Dividido em dois como o dia, parte Lunar e parte Solar. Bem, todos nós somos, não é verdade?  Mas não daquela forma. Thomas Gunner fora completamente dividido em dois por seu trabalho. Literalmente. O problema é que antes o Eu-Lunar aparecia só em situações nas quais fosse necessário, mas agora? Bem, agora ele vivia um diálogo infinito em sua cabeça. Talvez as coisas tivessem mudado pois ele dera muita liberdade para seu Eu-Lunar. Tornara-o forte. Inflava-lhe o orgulho ser uma espécie de justiceiro e não se lembrar dos pequenos detalhes sujos que aquele "serviço" requeria. Agora era tarde e todas as ações que tomava (desde acordar até que livro ler) eram arduamente discutidas pelas duas vozes (em sua cabeça -quando estava entre pessoas- ou em voz alta, quando estava em seu apartamento, sozinho). Houvera uma vez na qual a discussão fora tão dura que ambas as partes gritavam uma contra a outra, atropelando-se, fazendo Thomas engasgar e cuspir de raiva até que foi interrompido pelo bater na porta. Era apenas o vizinho com medo da briga entre Thomas e seu convidado. Não houve muito problema em dispensá-lo, afinal.

Mas agora, as mentes focadas naquela discussão sobre tomar ou não providências contra o avanço significativo dos detetives Exupéry e Champollion o deixava extremamente ocupado. Tinha casos a cuidar, mas não tinha cabeça para aquilo. Precisava se proteger antes de proteger outras pessoas, não é mesmo?

-Para quê? Porque deveríamos sair de nossa terra, a terra de nossos ancestrais!? Podemos resolver isso com duas mortes. Eles não podem ser tão espertos. E nós temos uma vida aqui! Um emprego! Pessoas a punir, seja pela Justiça dos Homens ou pela Justiça da Lâmina!

-Isso não resolveria mais nada! Ou você acha que Exupéry e Champollion seriam os últimos detetives a tentar solucionar casos tão glamurosos quanto o de assassinos mortos misteriosamente após serem liberados!? Fomos estúpidos ao saírmos com o anel de formatura sob a luva! Cometemos um erro fatal e devemos nos redimir saindo daqui!

-Puritano tolo! Não cometemos erro algum! Isso só torna o jogo mais divertido! Eles estão muito perto e quando sentirem o nosso cheiro, estarão em nossa mesa, implorando por misericórdia. -E então estava decidido. A voz doce calara-se sob a potência da voz rascante e a decisão fora tomada. Thomas Gunner mataria os dois. Nas próximas treze horas.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Deísmo

Certo, eu sei que faz muito tempo que não escrevo aqui, mas houveram motivos mais do que suficientes para tal. Estudos, provas, a morte de minha cadelinha e a simples falta de inspiração. Peço desculpa aos amigos que reclamaram comigo sobre a continuação de "Fera-Humana", mas é melhor não escrever por um tempo do que escrever qualquer besteira. E respondendo à outras perguntas, sim, a história tem um final prontinho na minha cabeça e sei o fim de cada personagem.

Estava deitado, prestes a dormir quando senti aquele ímpeto de escrever. Aquele que toda pessoa que desfruta dessa arte conhece. Aquela força que te leva a por seus pensamentos confusos em palavras alinhadas em uma superfície branca. Então levantei, são 01:23 e aqui estou eu, escrevendo.

Como disse no post Religião, não tenho uma religião definida. Faço uma miscelânea das coisas em que acredito. Graças a uma amiga de faculdade, Daniele, eu descobri que sou Deísta! Qual não foi minha surpresa ao imaginar que em minha "loucura" perante a sociedade eu, logo eu, tinha o mesmo raciocínio de algumas das mentes mais brilhantes da história, como Mendel, Tolstói, Benjamin Franklin, Victor Hugo e até minha musa, J.K. Rowling. Segue o link de deístas famosos da Wikipédia.

Quem me conhece sabe da minha necessidade de saber as coisas e do nível de frustração e auto-repreensão que apresento ao não saber. Até hoje não sei bem se isso é uma característica positiva ou negativa da minha personalidade, mas devem imaginar como fiquei ao descobrir isso, uns dois meses atrás. Eu nem sequer sabia da existência desta corrente de pensamento! Depois de umas horinhas me martirizando, pesquisei na internet e li tudo o que pude sobre o assunto e é ridiculamente igual a minha linha de raciocínio. Se eu tivesse nascido no século XIII, talvez eu fosse o pai do Deísmo e não Edward Herbert, já que cheguei às mesmas conclusões sem pesquisar sobre isso em parte alguma!

Alguma coisa está lá fora, alguma força vital, energia, criador, deus, isto eu tomo como fato. Só não sei se dar-lhe um gênero, pintar-lhe uma imagem e embuti-lo de uma personalidade ao mesmo tempo vingativa e perfeitamente amável é algo certo a se fazer.

Infelizmente a humanidade não é evoluída o suficente para despir-se de preconceitos e acreditar em uma força superior sem precisar ir a uma igreja todo Domingo. Na verdade é ao contrário. O que acontece é que, sem a religião, nos dias de hoje, algumas pessoas já teria perdido completamente a moral e ética necessárias em um convívio em sociedade. É duro aceitar, mas muitos de nossos cidadãos só respeitam nossa Justiça Positiva (Lei escrita) e Justiça Natual (Lei Divina) porque temem o sofrimento eterno.

Criticar as profundas bases de, não apenas uma, mas todas as religiões de que tenho conhecimento requer uma boa quantidade de coragem, pelo menos de mim. Tenho amigos no Seminário, ateus, agnósticos, espíritas, budistas, evangélicos... não quero que aqueles que um dia, eventualmente, leiam isto digam que eu critico seu Deus. Só não acredito neste Deus ao mesmo tempo terrorista e pai do ano. É, eu sou Deísta.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Livros.

Não sei se todos têm a oportunidade de se sentir como eu ao ler um livro. É algo tão mágico e encantador... Sinto como se, a cada página, conhecendo mais seus personagens, eu conheço mais a um amigo. É como na vida real, você nunca conhece completamente seus amigos, nem mesmo nas situações mais inusitadas. Nunca sabe, com certeza, qual vai ser a reação dele ou dela em determinada situação até que esta situação aconteça. E vamos dizer a verdade, na vida real, situações tão incríveis raramente acontecem. Acho que é por isso que gosto de ler. Conheço novos amigos e embarco em aventuras "nunca d'antes havia navegadas".

O problema é quando chega o fim. A maioria dos livros não se encaixa em uma série então ao término de um livro é muito capaz de nunca mais ver aquele amigo a que tanto se apegou. Talvez seja por isso que gosto de séries como Harry Potter e Sherlock Holmes. O fim está lá, mas sempre parece longe.

Perder um amigo, mesmo que seja literário, é uma das situações mais deprimentes pelas quais já passei. É interessante a psique humana, não é mesmo? Lemos um livro e queremos chegar ao fim para desenrolar o mistério. No meio do caminho, passamos de conhecidos (os personagens e o leitor) a amigos. E no fim, no último capítulo, sentimos um remorso incrível por já ter acabado a história. Estou falando na primeira pessoa do plural mas nem sei se outras pessoas se sentem assim ou se eu que sou doido mesmo. Doido ou não, é uma sensação das mais impressionantes.

Tem gente que prefere os filmes. Tem gente que chega ao cúmulo de esperar o livro ser comprimido pelo cinema para se interessar pela história nele contada. Tem gente que mesmo após ver o filme e gostar, recusa-se a ler o maldito livro! Mas tanto faz, não estou aqui para criticar, apenas analisar.

Quando leio um livro e esse livro vai para as telonas, meus sentimentos são contraditórios. Sinto-me feliz ao saber que meu amigo vai passar mais algum tempo comigo e ao mesmo tempo deprimido porque, convenhamos, a maioria das adaptações do cinema deixam muito a desejar. às vezes acabam corrompendo o personagem... o amigo! que você tanto conhece e a quem tanto admira!

Ainda tem a pequena vantagem de, se você cansar daquele amigo, pode parar de ler (o que acho um crime). Também pode reler, se sentir sua falta! Bem, quem pode fazer isso na vida real? Guardar o amigo no bolso e falar com ele quando estiver com paciência ou então voltar o contato direto depois de muito tempo de distância?

Cachorros são bons, mas os livros é que são os melhores amigos do homem.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Mãe (Lágrimas no coração).

Quando diziam que só escrevemos quando estamos com problemas, eu sempre achava tolice. Mas percebo que pelo menos parte da oração é verdadeira: quando estamos com problemas, escrevemos. Bem, ao menos eu. É por isso que vim aqui, às 00:47 escrever: porque tenho um problema.

As coisas que mais prezo nas relações são o amor e o sentimento de orgulho mútuo que corre entre as pessoas. Bem, hoje, pela quarta ou quinta vez, eu quebrei o orgulho de uma pessoa. Não importa o quanto eu lute contra, eu sempre acabo no mesmo soneto: me atrapalho e decepciono as pessoas. Deve ser algo genético, não sei, afinal faço Direito e não Biologia.

Sempre que eu estou indo bem, fazendo a pessoa ao meu lado feliz e orgulhosa por meses, até anos, consecutivos, eu faço alguma merda. E pago por isso. Lá se vão mais alguns anos até conseguir a confiança da pessoa de novo e o pior é eu me perguntar: eu realmente mereço essa confiança? Mereço esse respeito? Um dia vou merecer?

A pior coisa para mim é magoar alguém que amo tão profundamente quanto amo a esta pessoa. A segunda pior é ter de ouvir o quão baixo sou e concordar com cada palavra. Ouvir dessa pessoa que ela tem vergonha de mim e que seria muito mais feliz se eu nunca tivesse nascido nem de longe é tão ruim quanto saber que a magoei e que transformei cada verdade contada ao longo desses anos em uma suposta mentira.

Acabo de perceber que é a primeira vez que escrevo com lágrimas nos olhos. Logo eu, com essa cara de malvado que faço para me proteger. É mais dificil escrever com lágrimas no coração do que nos olhos, eu acho.

Não sei, acho que não tenho mais o que dizer.

Desculpa por ser assim.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Fera-Humana 8

Data: 31 de Janeiro
Hora: 14:00
Local: Crowne Plaza Hotel, suíte 100.

Ouvia-se, por dois andares inteiros o batucar irritante dos sapatos sociais acompanhados pela bengala de Stanley, o hóspede biruta da centésima suíte.

Marie Guilhermo tomava chá, respirando lentamente, em uma suíte no térreo, logo abaixo da de Stanley. Executiva de sucesso, tirara o fim de semana para relaxar, esquecer um pouco da França e, de vez em quando, guardar o salto agulha bico fino e usar confortáveis chinelos de borracha. Bem, basta dizer que a parte dos chinelos se concretizou, mas a referente a relaxar não chegou nem perto. Quis o Destino que Marie escolhesse exatamente aquela suíte, onde se podia ouvir tudo que acontecia acima e aos lados.

Quando o avião dela pousara nos Estados Unidos, na sexta-feira, ela nunca imaginaria que aquela viagem de férias a deixaria ainda mais estressada. Ao chegar no Crowne Plaza Hotel, Stanley estava saindo junto de Osmond, logo de manhã. Ela ignorara completamente a presença daqueles estranhos que, tinha certeza, eram ingleses. "Malditos ingleses com seus sobretudos bregas, espalham-se por todo o mundo como a gripe espanhola!", fora o pensamento que tivera, quase inconscientemente da rixa clássica entre os franceses e os ingleses. Algum tempo depois, acomodada e fumando um cigarro com toda a classe que cabe aos franceses, Marie ouviu um barulho de pés apressados, junto com um som forte que podia ser uma perna de pau ou mesmo uma bengala.

Não é necessário dizer que aqueles sons foram os primeiros de uma sinfonia infernal que durou toda a noite e manhã de sábado, finalmente parando às dez horas da manhã em ponto. E Marie dormiu. Dormiu como um anjo, o quadragésimo quinto cigarro ainda na boca, todo mordido, das horas de raiva passadas. Cinco horas depois fora despertada por vozes altas, vindas do apartamento de cima. Irritada, caminhou até a porta e escancarou-a, seu rosto, a imagem dos portões do Tártaro. Perguntou, xingou e reclamou com o gerente do hotel que prometeu resolver o problema, mesmo sabendo ser impossível. Ao aceitar o check-in dos detetives, sabia que seriam hóspedes incomuns e excêntricos, mas com bolsos recheados de libras.

Ao voltar para o quarto, o silêncio reinava.Sentou-se em uma fofa poltrona e abriu um livro. E os sons recomeçaram. A noite terminou, a manhã veio e se foi, acompanhada da tarde e, no fim, Marie se levantou, um grito ecoou e ela soube que algo estava terrivelmente errado.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Fera-Humana 7

Data: 29 de Janeiro
Hora: 09:30
Local: St. Antony Central Hospital

Devido ao seus amigos nos Estados Unidos, Stanley havia conseguido um embargo no último corpo, Carl Montgomery, assassino de seus próprios filhos. Depois de uma viagem demorada de táxi devido ao trânsito, eles chegaram no St. Antony Central Hospital. Não carregavam maletas nem casacos ou guarda-chuvas, como a maioria. A única coisa que Stanley tinha na mão era seu relógio de bolso. Tudo corria bem, haviam chegado meia hora antes do encontro com o legista a despeito do trânsito.

Talvez fosse a mórbida convivência com seus pacientes, mas Gary Powell, o legista amigo de Stanley se assemelhava muito a um morto. Magro, cabelos ralos e sujos, profundas olheiras, pele pálida. Quando os dois detetives entraram pelas portas duplas do necrotério, ele nem se deu ao trabalho de sorrir. Talvez fosse por isso que Powell e Exupéry fossem tão amigos: eles não seguiam as normas sociais. Por outro lado, Osmond sorrira abertamente para o legista que ergueu os olhos para avaliá-lo e voltou a atenção para o cérebro que pesava. Com um dedo comprido e fino, indicou um armário de metal próximo a ele. O sorriso de Osmond murchou de tal maneira que parecia escorrer por seu rosto.

Stanley pigarreou, manteve o corpo ereto e caminhou, aos cambaleios, para a gaveta. Girou a chave que ali pendia e puxou-a, revelando um cadáver masculino, as lacerações no pulso bem evidentes, significando que ele havia lutado para fugir de seu cárcere. Uma marca em seus lábios indicava o uso de força bruta. Ele fora surpreendido durante a noite. O soco na boca havia sido um sossega-leão. Stanley sorriu. Havia alguma coisa nos lábios do homem que não devia estar ali. Alguma coisa além da marca do punho grande, de um homem. Exupéry escorregou a mão por seu casaco, como uma cobra e pegou uma lupa. Quando ergueu os olhos para o corpo, Osmond já estava examinando-o com sua própria lente.

-Tem de ser mais rápido, Stan. -Sorriu e Stanley revirou os olhos, apoiado na bengala.-Ah, eu reconheço essa marca...-Sussurrou o mais jovem dos detetives, os olhos, ampliados pela lupa, brilhando como os de uma criança ao ganhar um brinquedo novo.-Stan...

-Fale logo, homem!-Esbravejou o parceiro, tentando enxergar naquela massa vermelha que era a carne dilacerada.

-Acho que nosso assassino é um advogado.-Sussurrou Osmond, os olhos arregalados, agora sem o auxílio da lupa.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ensaio sobre o futuro

É noite mas não se vê muitas estrelas. As nuvens grossas dividem-se ao sabor do vento, ocupando a cada instante o lindo céu que há ali, escondido.

A todo o entardecer, Anna, 12 anos, sai de seu trabalho suja de carvão mineiral (o vegetal já não mais existe) e senta-se na varanda de sua modesta casa feita de pedras toscas e desencontradas, a um sopro de desabar. Fica ali sentada, olhos fixos no céu, esperando uma oportunidade de poder vislumbrar algum brilho lá em cima. Talvez Sírius Prime ou Marte. Uma vez, quando tinha sete, conseguiu ver toda a constelação de Andrômeda. Fora o dia mais emocionante de sua vida e também a última vez que chorara até hoje. Toda vez que percebe uma estrela, seus olhinhos marrons piscam, como uma máquina fotográfica, tentando gravar os momentos raros. Em sua cabeça tinha todo o mapa estelar desenhado, as estrelas que já vira antes circuladas de rosa.

Ela era uma apaixonada. Uma das mais velhas em sua mina, no pequeno intervalo de cinco minutos só falava do espaço e das luzes que, na verdade, eram maiores que nosso planeta, mas que parecem tão pequenas que dão a impressão de serem glitter que pode ser guardado no bolso para ser visto quando se quiser. Mas não é assim e ela sabe disso.

Mas essa noite é diferente. Por um fugidio instante ela viu uma grande luz, maior do que todas as outras, tão forte que ardeu-lhe os olhos.

Era a primeira vez na vida que Anna via a lua.

Sua boca abriu-se em um pequeno "o" e seus olhinhos piscaram furiosamente. É claro que ela sabia que a lua existia, sabia que os ricos que antes viviam em seu planeta haviam ido para lá, para a primeira colônia da Terra, quando o Tratado Gamma determinou que a situação da biosfera terrestre era irreversível. O tratado que determinou a vida de milhões de pessoas, principalmente as pobres como ela. Um paraíso. Um paraíso nunca antes visto por ela, apenas imaginado. Ocupando sua superfície luminosa, ela podia ver sombras longas, os prédios maiores que as minas que ela cavava com as próprias mãos. Um lugar de felicidade.

Ficou imaginando se mais alguém via aquilo. Depois pensou se alguém na lua conseguia ver aquela grande bola cinza que era a Terra. Será que eles pensavam como era horrível viver ali? Como era triste ter de cavar e cavar sem nunca usurfruir daquilo que tirava das rochas? Será que eles sabiam que se continuassem assim, a lua ficaria exatamente como a Terra? Será que eles sabiam, desde o começo, que antes, muito antes, havia uma chance de uma vida digna para todos? Claro que sabiam. Só não ligavam.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Fera-Humana 6

Data: 29 de Janeiro
Hora: 00:21
Local: Crowne Plaza Hotel.

Depois de pouco tempo de táxi até o hotel, um dos mais próximos do aeroporto, segundo o taxista, eles haviam feito o check-in e já estavam acomodados em seus quartos. O hotel era realmente agradável. Recebera quatro estrelas em um catálogo de viagens de Denver, o que o irritava era que oito, das doze malas que carregava tiveram que ficar na Sala de Bagagens. Era bom pensar que, se descobrissem o assassino rápido, logo estariam de volta à sua amada Inglaterra.

Durante o check-in, Stanley pedira que servissem Earl Grey. Estava arrumando seu armário quando bateram na porta.

-Um minuto!-Sua voz ressoou pelo cômodo enorme. Sorriu de lado e mancou até a porta.

-Seu chá, senhor. Earl Grey.-Um homem vestido de terno lhe trouxera o chá em uma xícara de porcelana centralizada exatamente no meio de uma bandeja metálica. Stanley sorriu abertamente. Aquele era um dos seus. Colocou uma nota de vinte libras no bolso do homem, analisando-o. Sem aliança e sem marcas delas. Sua roupa estava impecável, incluindo seus sapatos que pareciam... não, não pareciam, eram novos. Ou aquele homem começara há pouco no serviço ou ele adquirira uma roupa novíssima. O homem se retirou , deixando uma dúvida na mente de Stanley. Ora, jurava que havia visto, nas roupas dos serventes, uma placa dourada com seu nome desenhado, mas não naquele senhor. Ergueu a sobrancelha e levou a xícara aos lábios, congelando em seguida.

Vinte minutos depois, Stanley e Osmond estavam reunidos no quarto do mais velho, discutindo sobre o estranho acontecimento.

-Então acha que o homem não trabalhava aqui?-Osmond perguntava, sentado em uma poltrona fofa.

-Tenho certeza de que não. Por via das dúvidas, não bebi o chá. Joguei-o na planta.-Indicou um bonsai centralizado em uma mesa de centro.-E qual não foi minha surpresa ao achar isto entre a xícara e o píres?-O olhar de Osmond iluminou-se enquanto olhava o pequeno papel com apenas uma palavra escrita em uma letra desenhada, como a de uma criança: Desista.

-E eu que pensava que seria um caso fácil. Alguém da polícia irritado com a justiça dos homens. Acho que esse caso vai ser um belo exercício mental, Stan.-O sorriso de Osmond era quase maníaco enquanto ele analisava o papel.-De manhã começamos nossa pequena investigação.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Fera-Humana 5

Data: 28 de Janeiro
Hora: 21:59
Local: Avião da British Airwais, Meio do Oceano Atlântico, à caminho de Denver.

Desde que o avião havia decolado, ele não abrira os olhos, suas mãos estavam cravadas nos braços do assento e seus ombros curvados. Isto fora há quatro horas. Respirava aos saltos, fazendo barulho e balançando as pernas no soalho do avião. Cansado daquilo, Osmond respirou fundo e deu-lhe uma cutucada nas costelas com o cotovelo. Stanley nem se moveu. O mais moço revirou os olhos e bateu com força em seus costelas, fazendo Stanley saltar, a costela doendo.

-Por Deus, está louco? -Perguntou, esfregando-as, o cenho franzido.

-Há! Essa é boa, olha a que ponto cheguei: Stanley Exupéry perguntando se eu estou louco!-Disse, a voz contida.-Você está há quatro horas desse jeito, o avião não vai cair!

-Não ligo a mínima se o avião cair desde que eu não tenha de ver todo o sangue!-Conforme falava, mais pessoas começavam a olhá-lo, algumas haviam claramente acabado de despertar. Osmond encolheu-se na poltrona, afundando o queixo no peito.

-Como fui aceitar ir para outro país com você? Só embarcar já foi um problema. Você disse: "Minha mala está pronta", mas na verdade queria dizer: "Minhas doze malas estão prontas". Ah, sem contar com as malas de comidas e bebidas enlatadas que foram negadas no aeroporto! O que acha que vai acontecer? Os vermelhos vão lançar bombas nos Estados Unidos justo quando estivermos lá?-Perguntou, a ironia evidente em sua voz.

-O quê? Quem falou de vermelhos? Onde conseguiu essa informação?-Stanley havia levantado, apoiado na bengala, seus olhos estavam do tamanho de bolas de golfe.-Por Deus, vamos todos morrer! Vermelhos vão destruir o país inteiro durante nossas férias! Como se não bastasse um serial killer!

Com isso, foi um pandemônio. Tudo começou com um murmúrio que logo se tornou uma algazarra, todos temiam que os sovietes fossem derrubar o avião. Um passageiro calvo, de terno de tweed, gritou:

-Todos estão tão preocupados com os sovietes que nem ouviram a parte do Serial Killer! Temos um assassino em série no avião, que Deus nos ajude!-Foi fantástico, o nível de gritaria aumentou. O culpado de tudo, Stanley, se sentou, incrivelmente sério, um belo disfarce para seu medo.

Ao descer do avião, todos rogavam pragas contra os dois amigos. Após pegarem as malas, saíram sob os murmúrios e vaias dos passageiros. Stanley ia na frente, mancando, carregando uma mala, seguido por Osmond, branco de fúria, carregando duas (sendo que apenas uma era dele). Quatro metros atrás dos detetives vinham três funcionários do Aeroporto Internacional de Denver carregando o resto das malas. Ninguém parecia exatamente feliz ali exceto Stanley.

Alma

Faz tanto tempo que não escrevo aqui que quase esqueci o Login e a senha como aconteceu com o Simbiose, antecessor deste. Não escrevi porque não queria, e porque muitas coisas aconteceram. Coisas demais, considerando-se o período no qual me encontro: férias. Portanto, tinha coisas demais na cabeça e a menor vontade de postá-las aqui. Mas, finalmente, esta semana uma idéia me surgiu...

Não costumo sair muito de casa por ser um pouco anti-social. Nas férias, então? Viro quase um zumbi. Mas também, considerando-se que moro em uma cidade universitária, não há muito o que fazer nas férias. Meus amigos estão em suas casas, em outras cidade ou até em outros estados. Os que moram aqui têm tanta opção quanto eu. Nada de noite e de dia é esse calor infernal. Não sei, talvez este seja apenas um dos atributos negativos da classe nerd, mas não gosto de sair de casa.

Porém, depois de dois meses sem sair a não ser que fosse extremamente necessário, sinto vontade de explodir o mundo (principalmente quando estou cheio de preocupações) e, para não fazê-lo (pois sem ele não teria sobre o que escrever), saio de casa. Foi o que fiz na segunda-feira (31), saí de casa, peguei um ônibus, e cheguei no centro da cidade. Imaginava que estaria como sempre nas férias e feriados longos, vazio e deprimente. Mas, para minha surpresa, a cidade estava cheia, alegre, o som de malas deslizando pelas pedras portuguesas do parque Halfeld, jovens de mãos dadas, namorando, rindo. Sério, a mudança é espetacular. Geralmente não gosto de lugares cheios, mas fiquei satisfeito em ver a cidade que eu moro ter sua alma de volta.

Talvez tenha sido isto que tenha me ajudado a ter sobre o que escrever. Se não fosse isso, eu ia esquecer os dados do blog e, na internet, haveria mais uma página abandonada.

Mas eu me conheço. Hoje, regozijo-me ao ver os jovens da minha faixa etária, mas amanhã, ah, amanhã é outra história.