segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Contos de fada.

Quando eu era pequeno eu gostava de me imaginar detentor de alguma especialidade, poder, habilidade, o que seja. Eu gostava de pensar que talvez o mundo não fosse tão cinzento quanto parecia. Que deveriam haver dragões, fadas, princesas, amigos verdadeiros. Que, na verdade, a ficção não é nada mais do que um breve momento de lucidez, onde o autor conseguia ver por entre as cortinas que dividem as dimensões.

Era bom pensar assim. Minha infância não foi exatamente muito divertida, apesar do que os adultos da época pensavam. Morar em uma cidade pequena onde a criança tem espaço para brincar do lado de fora pode ser, sim, um problema sério. Antes de se estabelecer em um lugar, as pessoas têm de avaliar não apenas o local em si, mas as pessoas. Avaliar se as pessoas têm a mente tão pequena quanto o lugar em que moram, se elas estão preparadas para "intrusos" em seu ambiente. Pois bem, não foi assim que me instalei em Miguel Pereira e acho, sinceramente, que foi minha imaginação que me salvou da loucura.

Não, os miguelenses não estavam preparados para receberem bem "intrusos" vindo da "cidade grande". E sim, muitos deles tinham e, infelizmente ainda têm, uma mente tão rasa quanto uma colher de chá. Sem a minha imaginação não sei onde teria parado em uma escola onde meus "amigos" me acertavam com pedras na têmpora (e acreditem, isto não é uma hipérbole), meus inimigos riam e faziam chacota de mim e até os professores pareciam aprovar estes atos. Não estou aqui para me fazer de vitima, longe disso, estou aqui para mostrar como uma imaginação avantajada pode trazer o bem para alguém.

Não devo negar que por muitas vezes pensei em suicídio, naquela época. Pensei em morte grande parte da minha infância, sendo a minha ou a de outros, não importava. Provavelmente o que me salvou de um destino ruim foram os livros. Como disse em um post anterior, eles são os amigos nos quais podemos confiar. E foram eles que me guiaram, me possibilitaram criar uma crisálida ao meu redor. Talvez um observador externo reparasse em minha mudança ao longo dos anos, de passivo ao dano moral causado por outrem para apenas indiferente. Não, não funcionou de modo a desanimá-los a parar com tais danos como a maioria das pessoas tendem a acreditar, mas pelo menos me fez dar menos importância a eles e mais ao meu crescimento intelectual e, porque não dizer, espiritual.

Cavaleiros, princesas desprotegidas, magos, bruxos, unicórnios, gigantes, amizade eterna e sem interesses, tudo isso se tornou um ideal para mim, um objetivo a ser alcançado. E ter um objetivo é tudo que uma criança com problemas de bullying precisa, na minha opinião. Com eles, não há intelectualmente prejudicados o suficiente no mundo para desanimar-nos.

Não sei se encontrei ou se um dia vou encontrar todos estes itens acima, mas sei que nunca, nunca eu vou desistir de procurá-los no coração e na mente de cada um que estiver ao meu lado.