domingo, 26 de setembro de 2010

Religião

Já me perguntaram trocentas vezes para que time eu torço, se sou de direita ou de esquerda, otimista ou pessimista, hetero ou homo, mas qual a minha religião? Eleve tudo isso à oitocentos e quarenta e oito e vai ter o número aproximado.

Eu não tenho certeza, mas eu acho que tenho cara de pagão ou de satanista. Deve ser meus cordões e anéis. Breve explicação para quem nunca me viu: Eu uso um anel atlante, um escapulário com uma estrela de cinco pontas e um Tetragramaton, carrego na carteira imagens de santinhos que mamãe e vovó me dão, leio livros sobre misticismo, OVNI's, já li a Bíblia, e vários outros livros de outras religiões. E as pessoas ainda acham que sou ateu, agnóstico, pagão ou satanista. Não que me incomode, claro, por mais que pareça piegas, respeito todas as religiões que não tentem sugar meu cérebro e me fazer acreditar no que elas pregam. Não, o que me deixa pensativo é que não importa o quanto eu diga minhas crenças religiosas, as pessoas continuam perguntando. Então resolvi escrever este pequeno informativo aqui, sempre que me perguntarem, vou dar o link do post, economiza saliva.

Eu não sou ateu, agnóstico, pagão, satanista, católico, hindu, espírita, hare krishna, budista, crente e muito menos acho que o Maradona é Deus (Pasmem!). Não, não sou nada disso. Costumo dizer que faço um compilado de todas essas religiões (com excessão da igreja maradoniana, claro, com todo o respeito). Não acho que há uma religião que implique todos os meus pensamentos sobre a vida e a morte e, sinceramente, não me incomodo com isso. Sempre gostei de ser um pouco alienígena (como o Spock de Star Trek - The Original Series) ou andróide (como o Data de Star Trek - The Next Generation), diferente dos outros.

Mas por meios de dados estatísticos e profundos estudos (lol) cheguei à conclusão que a religião mais próximia às minhas crenças seja o espiritismo (que é mais doutrina que religião, mas tanto faz). Mas tem coisas que não concordo também, então eu fico com meus estudos. Afinal, quem é que sabe tudo?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Fera-humana 2

Como se eu fosse tentar refrear aquele instinto que tentava me dominar com todas as forças...

Meu "eu-lunar" era como uma coruja. Ficava parado, escondido no mundo do meu cérebro, mas quando eu menos esperava -ou fingia menos esperar- ele saltava com tamanha fúria e paixão que eu não podia e nem queria pará-lo.

Cinco semanas decorreram-se sem mais incidentes dignos de nota após o caso do Magnata que eu confessei em rabiscos confusos no meu caderno de anotações. Eu achei que aquilo deveria ter sido o que chamávamos, no Direito, de Crime Passional (e a paixão era por justiça). Meu "eu-solar" tentava me convencer que fora um caso à parte, que aquilo nunca mais viria a acontecer, que o cheiro de cobre do sangue dos injustos nunca haveria de banhar minhas roupas novamente -roupas essas que nunca mais encontrei- e que eu havia de contentar-me com aquilo.

Mas eu sabia que não era assim... sabia que em breve, muito breve, minha fera-humana saltaria, rugindo, por cima do corpo de um injusto.

Foi dois dias após o aniversário de cinco semanas do meu primeiro crime que aconteceu. Um outro crime, dez vezes mais hediondo e o pior, sem propósito algum: Cansado de pagar pensão, um companheiro de classe, advogado, matou seus filhos gêmeos de 5 anos afogados na banheira. Não haveria um julgamento completamente justo do caso. Ninguém faria com ele o que ele fez com os filhos. Não era assim que nosso governo trabalhava.

No instante em que li aquilo no jornal, minhas mãos começaram a tremer. Depois de um minuto eu as contive. Joguei o jornal no lixo da rua sem ler mais nada. Mais uma vez tive um apagão e quando eu acordei, estava deitado no chão de minha sala. Levantei-me e notei duas sacolas, uma continha luvas pretas e a outra, roupas brancas, novinhas, em uma compra que não me lembrava de ter gasto 117 libras. Por mais que ainda fosse crepúsculo, meu "eu-solar" não tinha poder algum sobre mim agora. Vesti-me lentamente, colocando por último as luvas. Conscientemente, me perguntava como acharia minha vítima, mas inconscientemente eu já tinha a resposta. Saí quando a noite se iniciava. Andava a passos largos, punhos cerrados, desviando das pessoas que encontrava pelas ruas úmidas. Agora um estalo em minha cabeça trouxe a mensagem de meu inconsciente para meu consciente e eu sabia onde Carl Montgomery estava. Segundo o texto do jornal ele havia matado os filhos impulsivamente, às sete horas da noite. Tomando isso pelo fato e considerando-se que a casa dele estava sitiada e as investigações ainda não haviam começado em favor da greve na polícia, eu tinha certeza de onde ele estava. Como ele não tinha casa de veraneio, devia estar no único lugar seguro para ele, na casa dos covardes: na casa da sua mãe.

As mães sempre são facilmente enganadas pelos filhos. Principalmente quando este filho paga-lhe as contas. Mas não fazia sentido! Como diabos eu sabia onde era a casa? E me recordei... em meu apagão eu fiz uma pequena investigação. A casa vitoriana de Miss Montgomery, sempre florida e iluminada, estava fechada e, aos fundos, tinha as linda begônias completamente amassadas, perto de uma janela. Ele estava lá, com certeza. Uma hora se decorreu até que eu cheguei na casa, arfando a blusa colada ao peito, o vento frio fazendo meus pulmões reclamarem. Sorrindo, entrei pela janela que havia sido forçada por Carl. O imbecil, por medo de ser pego, arranjou um jeito fácil de ser morto.

Esgueirando-me pelo corredor comprido da grande casa, vi que a velha senhora dormia de porta aberta. Estava sem seus aparelhos auditivos. Sorri abertamente e fechei a porta com cuidado.

Demorou um pouco para eu descobrir que Carl dormia no porão, como um rato. Queria ver o medo em seu rosto, então, preparado para um grito, cutuquei-o.

-Ora, ora, vejam se não é o pai do ano! - Antes que ele gritasse qualquer coisa, soquei-o em cheio na boca, partindo-lhe alguns dentes. Segurei sua garganta com força até que ele desmaiou, sem ar. Respirando fundo, ergui-o e subi as escadas até o térreo. Saí pela garagem e coloquei-o no carro, preso por um lacre plástico. Liguei seu carro e ia sair, trancando a porta, quando disse: -Não se esqueça, pai do ano, a morte por sufocamento é a mais terrível de todas. -Saí a passos curtos e eufóricos para a calada da noite. Dois dias depois, meu porteiro comentou comigo:

-Viu o que descobriram? Aquele pai que matou os gêmeos afogados? Encontrado morto na garagem da mãe. Sufocamento por carbono.

-Verdade? -Perguntei, fingindo admiração.

-E eu acho bem feito, sabe? Dizem que foi suicídio. Burrice, ele tinha os dentes quebrados e marca de soco no rosto. Acho que um justiceiro fez seu trabalho nele. Pois pode apostar, que se eu o encontrasse, apertaria-lhe ambas as mãos!

Sorrindo, subi as escadas para meu apartamento.

Insônia

Estou com insônia. Não sei por quê. Acordei ao meio dia, o que é cedo para meus padrões. O foda é que tenho aula amanhã às sete e dez. Mas e daí? Eu posso dormir de tarde, se eu não tiver insônia, é claro.

Quando eu tenho insônia, não me sinto como os outros descrevem. Não sinto que o mundo para de girar e que só eu estou acordado. Também não sinto vontade de fumar, já que não sou fumante. Nem de beber café, que, argh! eu odeio. É mais como se eu me sentisse "menos menor" -abusando da licença poética- em relação ao mundo. Como se, já que as mentes nesse lado do planeta estão entorpecidas pelo sono -e eu, ligadão-, eu tivesse mais espaço para pensar o que eu quero. Não é tão ruim ter insônia. Ruim é ter de ficar paradinho tentando dormir para não acordar quem tá do seu lado.

Legal é que hoje, além de insône, estou com uma ardência desgraçada na garganta. Tudo fruto, como sempre, do meu vício pela leitura. Quero dizer: sempre que espirro é porque estou lendo um livro muito empoeirado; sempre que sinto dor de cabeça é porque estou lento muito; sempre que sinto ardência na garganta é porque li muito para outras pessoas, no caso, vovó e mamãe (Li Os Mensageiros para elas e As Brumas de Avalon 3 - O Gamo Rei só para mamãe.) Esse é o problema de se ter uma boa dicção e leitura... na escola, desde pequeno, quando a "tia" tinha preguiça, mandava que eu lesse os exercícios ou textos.

Nota: essa semana foi uma bosta para mim, estou todo moído e por isso não tive chance de postar. Só estou escrevendo aqui porque meu cérebro não para de me mandar ficar alerta.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Fera-humana

Ao bater das dezoito horas, o céu escureceu.

Quando anoitece, os cães uivam para a lua e as máscaras caem dos rostos humanos. O sorriso amarelo torna-se um sorriso oblíquo de prazer, de libertação. A alma humanóide grita por liberdade durante todo o tempo que o Astro-Rei se mostra. Mas basta este se esconder que o coração salta mais forte.

É sempre assim. O falso bem vive à claridade do dia, mas o verdadeiro mal, aquele mal que rasga a pele dos seres humanos permanece oculto até o primeiro raio de luar. Basta que este chegue para que as lâminas reluzam à sua luz e que as roupas tinjam-se de rubi.

Eu não sei se é assim com todos, mas comigo é. Eu sou um falso-qualquer-um de dia, a barba a fazer, o olhar caído, os cabelos enbranquecendo-se e o sorriso amarelo sempre presente. Mas ao chegar da noite... bem, ao chegar da noite eu me transformo. Eu viro uma fera-humana, como nas histórias de lobisomens, mas sem sair da minha pele. Como se o calor do sol desse lugar ao frio noturno, meus cabelos se arrepiam e eu tenho uma sádica sede por caos.

Não me lembro muito bem de quando isso começou. Só lembro que foi no dia que perdi meu primeiro caso em um tribunal. Não sei muito bem porque escolhi ser advogado criminal. Acho que no fundo, bem no fundo eu sabia no que eu ia me transformar e bem... sendo um advogado a situação torna-se bem mais fácil.

Ah, sim, agora me lembro. Eu não perdi meu primeiro caso... eu fui humilhado no meu primeiro caso. Meu cliente pegou perpétua e eu sabia, sabia que ele era inocente. Alguma coisa se quebrou dentro de mim naquele dia. Não faço idéia de como cheguei em casa, mas eu só lembro do badalar do meu relógio antigo anunciando às oito horas da noite.

Levantei-me, como compelido por um sopro do diabo. Vesti uma roupa toda branca que me deixava parecido com um fantasma loiro. Vesti luvas de couro negro e peguei a maior faca da cozinha. Eu já tinha tudo em mente, mas, digamos, meu "eu-solar", aquele advogado bonzinho e maria-vai-com-as-outras, fingia que eu só estava saindo para passear, levando a faca porque a cidade era muito violenta à noite. Ingênuo.

Meu "eu-lunar" não se interessava pelo meu "eu-solar". Na verdade, ele o ignorava sumariamente. Estava de noite e era ele que comandava meu corpo. Caminhava a passos largos, a faca bem escondida em meu cinto branco. As pessoas fingiam não me notar, mas se eu me interessasse por elas e olhasse para trás, veria seu olhar indagador para aquele fantasma de mãos negras.

Mal havia saído de casa e estava onde queria estar. Na frente de uma casa ricamente arquitetada, branca, daquele modelo idiotamente puritano que toda a casa de subúrbio da América do Norte tinha. Meu "eu-solar" já havia ido dormir. Não tinha mais influência alguma sobre mim. Fechei as mãos e os dedos protegidos pelas luvas negras, estalaram.

Este dia foi marcado de um prazer embriagado que não me lembro bem, como em um sonho erótico. Eram apenas flashes. Uma mão negra segurando uma faca, atravessando algo macio. Um som de rasgar e o pequeno gorgolejar manchando a roupa branca de vermelho. Sorrisos. Noite. E finalmente o pálido dia.

O raiar do sol foi como um tapa em minha cara. Eu estava nu, deitado em minha cama, os músculos doendo. Sentia-me como se estivesse de ressaca. Vesti-me. Fui até a porta e recebi os jornais. Precisei me segurar nas paredes finas do corredor ao ler a manchete "Magnata vencedor do processo decorrindo ontem é encontrado morto em sua própria casa" e saber que eu tinha feito aquilo. Não era um sonho. Sorri. Era o raiar de uma nova noite.