quinta-feira, 25 de novembro de 2010

As aventuras de um Nerd solitário

Há muito, muito tempo, em uma galáxia muito distante, na época em que ser nerd ainda não era "modinha", Carlos Augusto Ferreira Neves, também conhecido como Carlos Augusto Ferreira Neves já fazia parte dessa raça sofredora.

Desde infante era diferente das outras crianças da escola. Enquanto algumas rolavam na terra, jogando bola e brigando, ele matava aula de Educação Física para ler "O Pequeno Príncipe". Era gordinho exatamente por matar as aulas de Educação Física e também por isso, o Q.I. de todas as crianças somadas não chegavam ao dele.

Desde o primeiro dia de aula conviveu com o bullying e só nos últimos anos de escola aprendeu como não ligar mais para ele. Assistia a todos os filmes/séries/franquias que traziam o gênero sci-fi, principalmente aqueles que iniciavam-se com a palavra Star.

Carlos Augusto Ferreira Neves nunca se preocupou muito com o assunto do gênero-biológico dos seres humanos. Via todos como iguais, independentemente de se faziam xixi em pé ou sentados. Na verdade, Carlos Augusto Ferreira Neves se sentia como um alienígena, como uma outra espécie, observando os homo sapiens sapiens que, na opinião dele apoderavam-se indevidamente do adjetivo latino sapiens. Talvez por estes problemas para se localizar na sociedade, Carlos Augusto Ferreira Neves se viu em um impasse que denominava de duelo: Hormônios X Neurônios.

Ao chegar na puberdade, começou a notar as formas das garotas da sala de aula. Enquanto alguns de seus colegas de classe já utilizavam a camisinha, ele ainda gaguejava na presença de alguma mulher. Na verdade, até mesmo na presença de sua Tia Marta. Era mais ou menos assim:

-Carlinhos, meu fofuxo, vem dar um beijinho na sua tia, vem?

-Be...Bei...Beijo, tia? Q...Que tal um...aperto de mão?

Pois é, Carlos Augusto Ferreira Neves não sabia muito bem como lidar com outros de sua espécie. Talvez por isto, tenha, sem querer, afastado todos à sua volta. Amigos, parentes... até os amigos imaginários dele não aguentavam muito tempo ao seu lado! Sinceramente, Carlos Augusto Ferreira Neves era um hecatombe fraternal.

Certo dia, findas as aulas daquela manhã, uma garota (e não era a mais bonita delas, nem a mais popular) aproximou-se de nosso herói com um sorriso tímido. Não é necessário dizer que, congelado, Carlos Augusto Ferreira Neves parecia prestes a ter um colapso nervoso.

-Er...Carlos, né? - Pergunta com uma voz doce (aos ouvidos de Carlos, pois na verdade ela era até um pouco fanha).

-Hã? Ah... É, eu...acho.

-Ah, sim. Então, sabe? Eu outro dia vi o professor Jair falando com você... Vi que talvez você seja o melhor da sala em tudo... Então...

-E...Então?

-O que acha de me dar uma aula de História? Sabe, eu tô afundando na matéria, meu cérebro é muito mais para Exatas, se é que me entende.

-O.k.

-O.k.? Então... pode ser agora? Tenho que esperar minha irmã sair.

Carlos Augusto Ferreira Neves aprenderia, na marra, que a única chance de um Nerd ficar com uma menina, qualquer menina, era aquela: dar aulas para ela. Mas aquilo não estava bem nos planos dele. Na verdade, os planos dele eram: ir para casa, tomar banho, almoçar e re-ver Star Trek: Deep Space Nine. Ele perderia aquela oportunidade única de se provar tão homem quanto qualquer sarado-jogador de bola para ver o Comandante Sisko tocar a estação espacial?

-Eu...tinha...Tá, pode ser.

-Sério? -Seu rosto iluminou-se. Ela conseguiria se salvar na matéria. - Então, meu nome é A...

-Ana Júlia Bastos. - Disse, mais rápido do que poderia se segurar. Ele conhecia todos da classe embora ninguém o conhecesse. Desde pequeno era bem observador e assim adquiria conhecimentos sobre todos antes que estes lhes contassem. Mas Ana não sabia disso. Arregalou os olhos e deu um passo para trás. Como ele sabia seu nome completo? Com certeza era algum tipo de psicopata.

-A... - Agora era a vez de Ana gaguejar - Acabo de me lembrar... minha irmã saiu mais cedo hoje... então...quem sabe outro dia? Tchau!

Carlos Augusto Ferreira Neves nem teve tempo de contra-argumentar, explicar, explicitar ou implorar para que ficasse. Não que estivesse acostumado com conversas com mulheres, longe disso. Estava mais acostumado é com a rejeição, pois, como sempre, continuava um hecatombe fraternal.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Momentos incríveis

Sabe aqueles momentos? Aqueles momentos em que nada pode se tornar melhor? Onde o tempo parece entrar em dobra nove e acabar antes do que devia?

Pois é, ontem eu tive um momento assim. Foi uma coisa incrível quando todo o Estádio do Morumbi se apagou, deixando apenas o palco aceso com uma luz lilás. Eu sabia que era ele, mas mesmo assim não podia acreditar que eu veria o ex-Silver Beatle/ ex-Beatle/ ex-Wings Paul McCartney.

Não sei bem o que dizer, mas foi fantástico. Ele não falhou nenhuma vez e me surpreendeu a cada nota tocada. O que mais me surpreendeu foi a banda dele. Para ser sincero, esperava ver o Paul e nem ligava para a banda. Mas ela foi parte importante (nunca a mais importante) de todo o espetáculo. O baterista dançando a macarena foi impagável e o guitarrista arrasando em Helter Skelter, então?

Diferentemente de alguns artistas, Paul é muito simpático. E olha que ele nem precisava ser, já que é um gênio da música e um escritor incrível. Mas não. O Cara aprendeu a falar português e até ouso dizer que a grande maioria do que ele falou entre as músicas foi em nossa lingua-mãe.

Para um show do Paul McCartney, ele começou bem simples. Só a música e os telões ligados, mas quando chegamos em "Live and Let Die", realmente foi um show. Os fogos explodiam em sincronia, de detrás do palco para o infinito. O fogo no palco durante o refrão deixou tudo ainda mais lindo.

Por três vezes Macca nos assustou, despedindo-se e indo embora. Mas, aos brados de "Paul!Paul!Paul", ele voltava para nos presentear com sua música. A última vez que ele entrou, veio com uma bandeira do Brasil enquanto o guitarrista trazia a do Reino Unido.

Foi tudo perfeito, o que atrapalhou mesmo foi as pessoas comprando cerveja e indo ao banheiro (tendo de passar por nós a todo o momento). Ah, e a maldita torre de transmissão no meio do caminho, atrapalhando a visão de todos. Por sorte conseguimos um lugar no qual o ângulo de visão nos privilegiava.

Vimos o Paul no telão e nos binóculos, o piano psicodélico dele, o baterista dançarino... Foi realmente memorável. Vai ser impossível esquecer isso.

Melhor ainda: foi um show em família: Eu, minha mãe, minha tia, meu tio e meu primo, faltando apenas minha avó e meu avô para ficar perfeito.

Enfim, Macca nos emocionou com homenagens à John e George. Acho que nunca chorei tanto assim. Eu ainda não acredito que tudo aquilo aconteceu, mas agradeço ao Paul por horas incríveis.

Em tempo: Sobre a queda de Paul ao final do show, tudo está bem, sem maiores danos.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Deuses da Morte

Às vezes, imagino-me como um asteca: criado para acreditar no politeísmo (Quetzalcóatl, Uitzliopochtli, Tlaloc...), em uma sociedade completamente diferente da nossa, bastante estável, se comparada com alguns países da atualidade, talvez até mais sábia...

Ao falar com o sacerdote, ouço uma velha profecia, assim: "A terra queimará e haverá grandes círculos brancos no céu. A amargura surgirá e a abundância desaparecerá... Será o tempo da dor, das lágrimas e da miséria. É o que está por vir." Lembremos que fui criado para levar as palavras do sacerdote como a mais pura verdade, não havia a hipótese da mentira. Surpreendentemente, o que mais me assusta não é toda a destruição programada, mas o tom de urgência da última sentença do sacerdote. Ele havia dito "É o que está por vir" com uma entonação que sugeria que, muito em breve, tudo o que eu acreditava seria vaporizado pelos ares.

O tempo passa e eu volto lentamente ao trabalho já que, como Macehuali, eu sempre tenho o que fazer.

Certo dia, um jovem (bem mais jovem que eu), corre até o Tlatoani para lhe dizer que havia visto deuses com corpo brilhante e quatro patas e duas mãos. Eles estavam vindo.

Foi a primeira vez que vi um espanhol. A princípio concordei com o jovem. Eram deuses que falavam estranho e soltavam gritos bestiais que nem um Macaco-da-meia-noite soltaria. Depois, porém, eles se dividiram, dando origem a um homem (brilhante, talvez, mas homem como nós) e uma besta (a parte que soltava os tais gritos).

Não entendo bem porque, mas nunca gostei daqueles forasteiros. Tinham bons sorrisos, mas olhos maus. Tive, é claro, que suprimir este pensamento, já que o sacerdote alegava que eram deuses vindos para proteger-nos do nosso profetizado fim.

Acho que não preciso dizer como essa história terminou, mas vamos lá: foi nosso fim. A profecia se provou verdadeira quando os intrépidos exploradores decidiram que queriam a terra. A nossa terra. A qualquer custo. Utilizaram de suas magias, controlando os trovões, imbuindo de pestes os tecidos que nos davam.

Às vezes, apenas às vezes, agradeço por viver no Brasil do século XXI, onde a crueldade permanece (ou até mesmo aumentou de intensidade) mas, pelo menos, é mais às escuras.



Glossário:
Tlatoani: Chefe asteca
Macehuali: Agricultor asteca, aldeão.
Quetzalcóatl: Deus dos sacerdotes
Uitzilopochtli: Senhor solar da guerra
Tlaloc: Deus da chuva, da fertilidade e da abundância agrícola.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Extraterrestres

Verdes, baixinhos, de antenas, saindo de discos voadores, fortes, com armas laser/phaser... o universo alienígena é grande demais para citar completamente. Talvez seja por isso que muitos de nós, terráqueos, não acreditemos neles.

Certo dia estava lendo a revista UFO no intervalo das aulas quando uma distinta senhorita tomou-a de minhas mãos e começou a escarnecer da revista e do leitor: eu. Não satisfeita, ainda mostrou para toda a sala o "nerd idiota" que estava lendo "aquela mentirada". Por incrível que pareça para quem me conhece ou lê o que eu escrevo, eu não retruquei, não levantei, não briguei. Apenas tomei minha revista sentado do mesmo jeito que estava antes e voltei a lê-la.

Acho que nesse ano que está acabando eu estava um pouco diferente do normal. Não fiz nenhuma tentativa desesperada de me situar em algum grupo de amigos. Isso acabou acontecendo de qualquer maneira, com ou sem minha ajuda. Também não estou tão engajado em uma batalha para mudar o mundo como sempre estive. Não, acho que percebi que não adianta nada, as pessoas são burras e Desgostosas (vide Odiar o Desconhecido) mesmo e não tenho mais o que fazer por elas, a não ser que elas queiram.

Estou fugindo do assunto, como sempre. Eu vim aqui falar sobre alienígenas e vou falar. Não importa onde, Star Trek, Star Wars, Avatar, Alien, Predator, livros, séries e filmes, quase todo ano temos contatos de quarto grau ao ser abduzido para ver as ficções-alienígenas. Eu, particularmente, gosto muito, mas não é esse o ponto. O que quero dizer é que o excesso de consumismo sobre a idéia fez com que as pessoas percam o verdadeiro interesse por alienígenas. Muitas pessoas vão ao cinema para ver os mocinhos matando os "monstros" e beijando a mocinha no final. Ou para ver derramamento de sangue, explosões e levar susto. Tudo bem que tudo isso é legal, mas e a história por trás disso tudo? E "Eram os Deuses Astronautas?"? E os casos de OVNIs, abduções, encontros de primeiro, segundo, terceiro e quarto grau?

Certo, podem vir dizer que são mentiras sem fundamento e blá-blá-blá. Mas não é bem assim. Como disse no post "Religião", eu leio de tudo um pouco e eu posso dizer que muitos dos contatos tiveram como alvo pessoas importantes e confiáveis, como militares e clérigos.

Sem contar que, comigo, estão os números. O próprio cientísta e deus-nerd, Stephen Hawking acredita que há vida fora do nosso esferóide azul.

Então, meus caros, se até O Cara acredita, me desculpem, mas opiniões sem fundamento ou baseadas na Bíblia não vão fazer efeito. Aceito apenas opiniões racionais.

P.S.: Falando sobre a Bíblia, até nela há passagens que possivelmente falam sobre alienígenas. Talvez um dia escreva sobre isso.

Live Long and Prosper.

domingo, 7 de novembro de 2010

Evolução X Estagnação

Desde o começo da História, o trabalho é nossa ferramenta. Utilizamos dela para conseguir tudo que nos é caro: moradia, alimentação e proteção.

Quando vivemos sozinhos, porém, todo o trabalho cai sobre nossos ombros; assim, optamos por conviver em grupos maiores onde o trabalho pode ser dividido para o lucro de todos. Será? Embora desde os primórdios o trabalho e seu respectivo lucro tivessem como objetivo o bem de toda a comunidade, não é bem isso que acontece em alguns casos.

Considerando-se que a Lei Áurea (decretando o fim do regime escravocrata) foi assinada em meados de 1888, ainda há um grande contingente populacional que faz parte desse grupo de escravos. Trabalham exageradamente e o único quid pro quo que recebem é uma péssima moradia e um pouco de comida, estagnados no período colonial.

No extremo oposto à escravidão, temos as mulheres no poder. É vergonhoso pensar que para elas conseguirem o que lhes é de direito, tivessem que queimar peças íntimas em parques e praças públicas. Elas forçaram, com toda a razão, sua entrada definitiva no mercado de trabalho e, prova disso, hoje temos uma mulher no poder, uma Presidente do Brasil. As eleições de 2010 sugerem que usar saias não é sinônimo de fraqueza.

Posto que, por muitos anos, os estadunidenses foram um dos povos mais racistas do mundo (com ônibus, ruas, bairros e até bancos especiais para brancos onde nenhum negro ousava pisar com pena de ser linchado ou preso), a vitória de Barack Obama indica que para tudo há uma solução. Talvez, um dia, os escravocratas modernos de todo o planeta percebam que, quando se está feliz, quando não se está sendo oprimido ou ameaçado, o ser humano trabalha melhor, é mais criativo e mais produtivo.