quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Fera-Humana 5

Data: 28 de Janeiro
Hora: 21:59
Local: Avião da British Airwais, Meio do Oceano Atlântico, à caminho de Denver.

Desde que o avião havia decolado, ele não abrira os olhos, suas mãos estavam cravadas nos braços do assento e seus ombros curvados. Isto fora há quatro horas. Respirava aos saltos, fazendo barulho e balançando as pernas no soalho do avião. Cansado daquilo, Osmond respirou fundo e deu-lhe uma cutucada nas costelas com o cotovelo. Stanley nem se moveu. O mais moço revirou os olhos e bateu com força em seus costelas, fazendo Stanley saltar, a costela doendo.

-Por Deus, está louco? -Perguntou, esfregando-as, o cenho franzido.

-Há! Essa é boa, olha a que ponto cheguei: Stanley Exupéry perguntando se eu estou louco!-Disse, a voz contida.-Você está há quatro horas desse jeito, o avião não vai cair!

-Não ligo a mínima se o avião cair desde que eu não tenha de ver todo o sangue!-Conforme falava, mais pessoas começavam a olhá-lo, algumas haviam claramente acabado de despertar. Osmond encolheu-se na poltrona, afundando o queixo no peito.

-Como fui aceitar ir para outro país com você? Só embarcar já foi um problema. Você disse: "Minha mala está pronta", mas na verdade queria dizer: "Minhas doze malas estão prontas". Ah, sem contar com as malas de comidas e bebidas enlatadas que foram negadas no aeroporto! O que acha que vai acontecer? Os vermelhos vão lançar bombas nos Estados Unidos justo quando estivermos lá?-Perguntou, a ironia evidente em sua voz.

-O quê? Quem falou de vermelhos? Onde conseguiu essa informação?-Stanley havia levantado, apoiado na bengala, seus olhos estavam do tamanho de bolas de golfe.-Por Deus, vamos todos morrer! Vermelhos vão destruir o país inteiro durante nossas férias! Como se não bastasse um serial killer!

Com isso, foi um pandemônio. Tudo começou com um murmúrio que logo se tornou uma algazarra, todos temiam que os sovietes fossem derrubar o avião. Um passageiro calvo, de terno de tweed, gritou:

-Todos estão tão preocupados com os sovietes que nem ouviram a parte do Serial Killer! Temos um assassino em série no avião, que Deus nos ajude!-Foi fantástico, o nível de gritaria aumentou. O culpado de tudo, Stanley, se sentou, incrivelmente sério, um belo disfarce para seu medo.

Ao descer do avião, todos rogavam pragas contra os dois amigos. Após pegarem as malas, saíram sob os murmúrios e vaias dos passageiros. Stanley ia na frente, mancando, carregando uma mala, seguido por Osmond, branco de fúria, carregando duas (sendo que apenas uma era dele). Quatro metros atrás dos detetives vinham três funcionários do Aeroporto Internacional de Denver carregando o resto das malas. Ninguém parecia exatamente feliz ali exceto Stanley.

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